20 December 2016

Unboxing: Bububox - Dezembro 2016



Após termos experimentado este conceito de gastar dinheiro sem sabermos no quê (um pouco mais útil do que a lotaria, no entanto), depressa procurámos alternativas para a nossa filha pois aos 5 meses ela já é grande fã de consumismo.

Nesta época Natalícia, onde o que reina é o amor, a família e os senhores do lixo que têm de recolher embalagens de chocolates que sabem a bolachas abertas há uma semana, decidimos subscrever a um mês de Bububox.

Podem ver o vídeo abaixo:





Vou também deixar aqui escrito a nossa opinião de cada produto. De maneiras que, spoilers!









1. Escova mordedor para fazer festinhas à gengiva - Chicco




Como dissemos no vídeo, estivémos prestes para comprar isto. O melhor pormenor da escova é ter um suporte em plástico que faz com que os bebés não se engasguem a achar que se trata de uma bengala de natal, o que faz com que actue como uma chucha. A nossa filha gostou desta escova, se bem que também gosta de morder o suporte. É o artigo mais útil da caixa.

Pontuação: 7 morceguinhos em 10.


2. Coelhinho se eu fosse como tu, brilhava no escuro com uma luz no...  - DotComGiftShop





Mais uma vez, nós queríamos isto, até termos comprado e não ter sido bem o que desejávamos. Mas este coelhinho, ao qual apelidamos de Passos, faz o que promete e faz bem. Não há muito mais a dizer sobre este, é um aparelho que fica a olhar para a nossa filha enquanto ela dorme. O que mais pode um pai querer.

Pontuação: 6 morcegos em fila para a Segurança Social em 10


A quantidade de almas que este coelho já aprisionou


3. Come antes uma peça de fruta   -  Clearspring




É chato as embalagens não terem vindo nas melhores condições (ver vídeo), mas não vieram abertas e depois de comer vai para o lixo portanto não vou massacrar a pontuação. Quanto ao produto em sí, é do mais orgânico que pode haver sem contar com roubar as pêras da árvore da Dona Luísa. Segue a lista inteira de ingredientes, segundo a embalagem:

100% pêra de agricultura biológica.

E é só. Não há mais ingredientes. É só pêra apanhada por um velhinho com uma hernia nas costas. Vem em formato de puré sem pedaços e sabe mesmo a pêra, semelhante a quando a minha mulher faz-me um puré de fruta porque eu não quero comer a minha dose diária pois enchi-me de chocolates. O sabor é o mesmo, parece caseiro. Quanto à nossa filha, demos a provar misturado na papa e também individualmente e ela ficou fã de pêra. Oxalá nos calhe um puré de bróculos apesar de me recusar a provar.

Pontuação: 10 Morcegos na Chinchada em 10!

4. huuh... esta coisa  -  Innobaby





Não temos muito a dizer sobre este mordedor. Resulta melhor do que outros mordedores que tentámos mas ela ainda prefere o que tem o formato de melância. Não a censuro, também me dá vontade de o morder. Ainda assim, ela gostou deste.

Pontuação: 5 morcegos na paragem do autocarro em 10



5. Gaiola de Espíritos  -  Small Foot (baby)





Esta roca é talvez o item favorito da nossa filha (nesta caixa, ninguém lhe tira a girafa Sofia). É todo em madeira e nota-se que é de muito boa qualidade. A nossa filha divertiu-se logo com ele. A minha namorada fica irritada com o som em demasia, o que eu considero um bónus e dou-lhe 2 pontos.

Pontuação: 8 morcegos a olhar para os dois lados antes de atravessarem a estrada em 10



6. Para o Papá! Ah!  -  Bounce




Por último, temos o item bónus para as mamãs. Como a minha esposa não suporta chocolate, tive a sorte de comer tudo. Não sou grande fã de chocolate com laranja, e lá nisso sabe mais a laranja do que a chocolate (inclui o que julgo ser pequenos pedaços de amêndoa), mas não nego a qualidade e senti-me saciado só com este pequeno pacote. Preferia outros sabores mas parece-me algo bastante útil para se ter na mala para quando estamos à espera do eléctrico do Cais do Sodré.


Pontuação: 5 Morcegos à espera que toque para o recreio em 10

Vamos a Contas!


Agora vamos à parte gira. A caixa custou 25€ (devido ao IVA) e no site é indicado que as caixas têm valor aproximado de 40€. Pelas nossas contas, consegue-se estes artigos na net com valor muito arredondado para cima pelos 30€. Mesmo que estejamos enganados, não parece valer 40€. Ainda assim, o interesse nestas caixas está precisamente em adquirir os produtos a valor reduzido, o fator surpresa do que vamos receber e experimentar produtos novos. Não temos como negar a qualidade de cada produto. No entanto, não ficámos muito satisfeitos com a caixa pois não iriamos comprar a maior parte destes produtos na loja e certamente não dávamos 25€ por tudo, independentemente do valor de retalho (que, óbviamente, não é dictado pelo consumidor. Um objecto tem o valor de 4€ porque a marca o diz). Iremos tentar, no futuro, outras caixas e daremos outra oportunidade à Bububox. Afinal, muito vem em parte dos nossos gostos e preferências, se calhar para vocês isto seria incrível.



Tertúlia Final


Gostámos de todos os produtos, mordedor e chocolates em último lugar, e a qualidade é de facto muito boa. Mas não dariamos mais do que 20€.

No entanto, é importante referênciar que cada caixa é feita consoante a idade. Houve caixas diferentes para outros pais e lá nisso eu dou pontos à Bubobox pela personalização. Apesar da nossa avaliação, tenham isso em conta se pensarem em adquirir a caixa para experimentarem.


Damos à Bububox de Dezembro de 2016:  6 Morceguinhos difarçados para o Halloween em 10

17 December 2016

Episódio 06 | Natal Branco | Ou: Como eu gostaria que a minha vida fosse contada pelo Jon Hamm


Por esta altura, estávamos a suar nas universidades respectivas. Eu na Aalborg University, no curso de Medialogy, e a minha esposa na UCN, no curso que pode dar emprego. Horas passadas na sala de grupo com os meus colegas a assegurarmos que o trabalho seria entregue a tempo. Foi uma experiência que apesar de desgastante, sempre me pareceu hilariante. Nada como ver os colegas do curso (de outros grupos) que já conhecia um pouco, sentados no chão ao lado da impressora e outros sentados no chão a formar a fila para entregar o formato fisico do relatório à secretária do piso. A cara de frustração de todos valeu a pena e se há coisa que me fascina é ver o desespero de todos os dinamarqueses mas, no fundo, a acharem tão hilariante como eu. Os Dinamarqueses são óptimos em humor negro, que me diga o meu amigo Kasper. Um dos 109432 Kaspers que conheci.


Um dos responsáveis por um dos meus maiores vícios: Pebernødder

Mas, afinal, estamos a falar de Dezembro de 2015, o ano mais importante da vida de todos. O ano em que viria a estrear o novo Star Wars. Surgiu, obviamente, a conversa no grupo enquanto trabalhávamos sobre quais eram as expectativas de cada um para o filme. Excepto eu, que disse que de forma a poupar dinheiro, não iria ver ao cinema, teria de esperar pelo Sr. Joaquim (ou como se diz na Dinamarca, pelo Sr. Joakim). No último dia de trabalho, o dia em que tinhamos de fazer a entrega, fui surpreendido por um colega. Visto que ele nunca quis qualquer pedaço da sua identidade espalhada pela internet, vou tomar a liberdade de lhe chamar L, em homenagem não só ao seu nome mas à personagem do Death Note, que pensando bem até lhes vejo semelhanças, incluindo comer constantemente para alimentar o cérebro e trabalhar descalço. Era uma espécie de hippie mas em vez de se concentrar em drogas e em seguir a palavra de Charles Manson, era viciado em adquirir conhecimento, fosse tecnológico, fosse modo de estar na vida. Para terem uma pequena noção, ele estava a viver numa tenda durante um ano, passando por fortes ventos e um terrível frio só pela experiência de saber se era capaz de viver assim. Das pessoas mais interessantes que conheci em toda a minha vida, era fantástico ouvi-lo a falar.

Voltando à surpresa, o L trouxe vários alimentos para nós para aguentarmos as últimas horas de trabalho e ofereceu-me um pequeno embrulho em formato de envelope. Eu abri e era um pacote de dois bilhetes de cinema, duas bebidas, duas pipocas e dois óculos 3D. Disse-me: "No one deserves to miss Star Wars. This is for you to go with your girlfriend."





Explicou que era por ficar sempre até tarde a trabalhar com os [poucos] que também ficavam, sendo que eu não tinha de o fazer pois não recebia dinheiro do estado para estudar como eles.

Foi dos poucos momentos da minha vida em que fiquei genuinamente sem palavras. Eu disse o obrigado mais honesto e sentido que consegui e estive prestes a deitar lágrimas não exclusivamente pelo gesto incrível mas por ter a oportunidade de levar a minha namorada a um evento para descontrairmos de toda a pressão e sermos felizes por umas horas. O L não dava o mesmo valor ao dinheiro que, bem, todos nós damos. Ele trabalhava muito (sem precisar, recebia do estado) para ter o suficiente que desse para sobreviver e não pensar em dinheiro, mas não via qualquer problema em gastar o que fosse pelo grupo para termos melhores condições de trabalho, o que incluia equipamentos e comida para termos energia, sem pedir nada de volta além do nosso trabalho. É talvez a pessoa mais honesta que conheci, dizia o que tinha a dizer, mesmo que fosse alvo de chacota à frente de toda a universidade (o que aconteceu imenso), ele simplesmente não queria saber. Tudo o que lhe interessava era como ele estava na vida naquele momento e fascinava-se como as outras pessoas viviam. Honestamente, conseguia escrever um capitulo inteiro sobre este colega. Por saber o quão genuíno era esta pessoa, mais me tocou o seu gesto.

E assim, acabámos os nossos relatórios, entregámos e fomos para as nossas merecidas férias de Natal.

Não sem eu deixar uma mensagem bonita a todos. Ao lado do boneco num pódio feito pelo Anders a dizer "Bruno Sucks Ass!" Eles conheciam-me bem.


Ou, pelo menos, foram para as merecidas férias. Eu merecia, mas não as tive. Eu e a minha namorada preparámo-nos com roupa e comida suficiente para trabalharmos na semana de Natal em casa do Notklaus.

A minha namorada tinha a tarefa de limpar as duas casas a pente fino, e o Notklaus pediu a minha ajuda para remover toda a mobilia da casa onde nós ficávamos pois a partir de Janeiro seria arrendado a gente que não tem noção de que não se faz nada em Hadsund. No entanto, ao chegar, o Notklaus disse que eu podia também continuar com o trabalho das árvores. Parecia-me bem, até chover a maior parte dos dias e a terra estar incrívelmente rija devido ao gelo. Decidi então que seria mais produtivo ajudar a minha namorada com as limpezas. Foi a casa mais imunda que já conheci, e conheci-a bem, talvez até melhor do que os donos a julgar pela cor de alguns cantos dos móveis. Havia veneno de rato por todo o lado, incluindo no meio de pratos e condimentos que usavam. Falando em condimentos, contámos 15 embalagens de maionese meio usadas. São mais ou menos fãs de maionese. Encontrei também uma embalagem de Bombocas (lá chama-se Bombokas) aberta, com a validade de Janeiro de 2014 e uma delas trincada. Mas guarda-se não vá fazer falta mais tarde.

Era impossível eu permitir que a minha esposa se pusesse em cima de bancos a limpar veneno de rato enquanto grávida. Se não tivesse prenha, até incentivava, afinal seria como as nossas segundas-feiras portuguesas. Mas não enquanto grávida, o que também influênciou não termos retirado muitos dos móveis pois os que eu precisava de ajudava não poderiam ser carregados por ela. Excusado será dizer que foi uma semana deprimente para nós. Longe da família, sem qualquer espírito natalício enquanto limpávamos a merda dos outros. Não me refiro só aos nossos patrões, também tratei dos coelhos e dos patos.

Eu expliquei aos teus donos como era "à Caçador". Depois explicam-te.

Dos poucos pontos altos foi eu ter aprendido a tocar sozinho no piano deles a música No Time for Caution do filme Interstellar e termos decidido tomar banho na banheira de hidromassagem deles depois de vários dias árduos. O ponto alto não foi estarmos a relaxar na banheira, mas termos esquecido que a nossa roupa estava na outra casa, o que fez com que tivessemos caminhado nus em pleno Dezembro Dinamarquês às 01h no meio do campo onde até Jesus tem de perguntar por direcções. Pior, esquecemo-nos dos nossos telemóveis, pelo que eu tive de correr todo nu 3 vezes no meio do gelo. Foi a única vez na vida em que não tive inseguranças com o meu tamanho pois não havia nada a fazer, era uma questão de aceitar. Após esta história, sempre que me perguntam em Portugal "Não tens frio só com isso?", eu pego num banco e começo a contar.

"Sabes quando os teus testículos se retraem com o frio? Em Hadsund, os meus batiam nos pulmões"


Em certa noite, foi altura de a minha namorada contar à avó que estava grávida, de forma a não apanhar todos desprevenidos quando chegasse a Portugal depois do Natal. A avó da minha mulher reagiu bem, o que a encorajou bastante, e encarregou-se de contar à família que não iriam celebrar só o nascimento do menino Jesus mas sim de um outro bebé considerávelmente mais lindo.

E assim ficaram a saber que, sim, ela estava oficialmente presa ao gajo do cinema que apesar de não falar com ninguém pessoalmente, ganha irónicamente a vida a comunicar com os outros.

Houve quem esteve sempre do nosso lado, aos quais agradeço profundamente. Não por mim, mas pela minha esposa. Houve, também, quem não tenha achado piada nenhuma e disse coisas muito bonitas que não me surpreenderam. De forma a exemplificar a importância que dei, aqui fica a imagem de um gatinho à espera que lhe sirvam à mesa mesmo sabendo que o que realmente importa é a sobremesa e não os bróculos que tem de aguentar até lá chegar:


As farófias são o que dão razão à vida, é o que eu quero dizer.

No dia 24, a minha esposa ficou a descansar à tarde enquanto eu fui às compras para a nossa apelidada ceia. Andei quase uma hora a pé até chegar a um supermercado que o meu patrão me explicou a correr onde ficaria. Pensemos bem: se eu me perdesse, não saberia onde estava, como perguntar a alguém onde ficaria a casa do meu patrão visto ser no meio do nada, não via se quer ninguém que pudesse potencialmente perguntar, a minha namorada não saberia explicar onde é que eu tinha ido visto que não existe policia pois os crimes só acontecem nos outros países,... Para não arriscar, eu fui tirando fotos por onde passava.

Eu sei que parece uma estrada em qualquer localidade portuguesa,
mas se prestarem atenção esta está bem alcatroada


Pelo caminho vi um gato morto na berma da estrada praticamente congelado. Pensei que já tinha a viagem arruinada, até porque teria de passar por ele outra vez de regresso, mas mais chocante para mim foram os preços no supermercado. Se já era caro em Aalborg, ali o preço aproximava-se demasiado do dobro. Mesmo assim, levei refrigerantes, batatas fritas, bolos e frutos secos. Não em grandes quantidades, mas levei porcaria sabendo do que estava a levar. A minha ideia era mesmo encher o balcão onde iamos comer com o máximo de aperitivos que conseguisse pois o nosso Natal já ia ser deprimente o suficiente, pelo menos que não fosse vazio. Ainda falámos com a minha família no Skype o que deu para ver a minha avó e desejar um bom Natal. Disse que foi o primeiro Natal que passaram sem mim (sem os filhos/netos, pois o meu irmão também não pôde ir) mas para o ano havia de compensar com uma nova presença. Vimos alguns vídeos no YouTube, já na cama, e adormecemos cedo, sozinhos, longe de todos, no meio do nada, só nós três.

Eventualmente chegaram os nossos patrões. O Notklaus estava muito mal das costas e a Nãoseikuantas estava muito mal disposta de todo o álcool que consumiu. Disseram-nos que se divertiram muito mas que estavam muito exaustos. No fundo, como nós, que também nos divertimos muito a limpar bichos ressequidos entre os armários. Talvez tenhamos sido descobridores pois encontrámos fósseis de peixinhos-de-prata dentro de substâncias que tanto podiam ser amber como merda. Chamemos a esta nova espécie: Emigrantis Ingratus. Eu tinha levado os móveis que consegui, incluindo camas, sozinho pelas escadas abaixo até ao armazém deles, mas havia móveis que só seria possível eu carregar escadas abaixo se não tivesse vontade de viver. Por isso pedi à Nãoseikuantas que agarrasse do outro lado visto que a minha mulher estava grávida e o Notklaus tinha sido carteiro e magoou-se muito nas costas. Lá levámos o que faltava até a Nãoseikuantas ter ido vomitar o resto. Após mais umas quantas horas a aspirar e a lavar, a casa estava pronta para ser recebida por surfistas. O Notklaus levou-nos à estação de autocarros onde pagou à minha namorada 1500Kr por uma semana de trabalho, o mesmo que me tinha pago por 2 dias nas obras, e a mim 200Kr por uma raíz tirada. Eu discuti com ele à frente de todos na estação, o que deixou-o embaraçado, mas tinham pedido para eu ir tratar das mudanças da casa e assim o fiz. Pagou-me mais 200Kr, que foi o dinheiro totalmente gasto para viajarmos os dois de volta para a nossa casa em Aalborg. Foi uma semana desperdiçada, mas que ajudou a pagar mais um mês. No entanto, como eu já suspeitava que isto fosse acontecer, eu disse ao Notklaus que tinha retirado só uma raíz mas a verdade é que nem isso, simplesmente mudei uma raíz que tinha arrancado anteriormente para outro sítio e ele não deu por nada. Menti, mas é o que acontece quando somos explorados. Já tinha ouvido histórias de que ele pagava o minimo que conseguisse por mão de obra estrangeira. Também se tinha aproveitado da minha namorada que avisou que deixaria as aulas de Dinamarquês devido à gravidez mas o Notklaus, professor dela, só avisou o serviço dois meses após pois recebia por cada aluno a quem desse aulas.

Chegámos a casa exaustos e em baixo. Eu fui comprar o nosso jantar enquanto a minha namorada desfazia as malas. Quando regressei, trouxe-lhe um Toblerone branco. Sabiamos que não o devia ter feito, e nem se quer foi barato, mas foi o meu pináculo de fazer conta com a intenção. Queria oferecer-lhe algo que le desse um pouco de alegria neste Natal deprimente. No final do dia, cumprimos o nosso plano de ir ver o Star Wars: The Force Awakens.




Para saberem como foi a experiência, podem ler o meu artigo no blog de cinema CINE31.

Passámos por um bom bocado onde nos divertimos e nos descontraímos como casal. Fomos a pé até casa de mão dada, numa cidade agora vazia por todos os estudantes estarem nos respectivos países. Foi o nosso último momento de felicidade na Dinamarca pois foi a última noite que passámos juntos. No dia seguinte, a minha namorada foi para Portugal, numa viagem sem regresso.



09 December 2016

Episódio 05 | O Poeta e o Pintor | Ou: Vê sempre o lado encantador da vida



 Por agora, já tinhamos contado a alguns amigos. À familia não, estávamos a guardar esse evento para uma data especial com convidados importantes e um rodizio de salgados em miniatura. Mas os amigos mais próximos, e mesmo alguns distantes em carácter de desabafo, foram sabendo. Temos o caso de um amigo, chamemos O Engenheiro, que dissemos por Skype para vermos a reacção. Custou-lhe um pouco a acreditar que viria a ser tio, mas depressa assumiu a responsabilidade. Depois fui espalhando aos meus outros amigos engenheiros e aos que, enfim, coitados, são meros Técnicos de Multimédia como eu. Recebemos imensos parabéns e tenho a agradecer o apoio de todos, por mais chocante que tenha sido para alguns, mesmo os casais que ganharam a aposta de que nós seriamos os primeiros. Afinal, eu e a minha namorada já viviamos juntos há 3 anos, era o passo natural. Bem, talvez fosse ter um cão primeiro, mas arranjei um hamster chamado Clicker em homenagem ao The Last of Us, por isso considero um progresso.

Era a coisinha mais fofinha


Enquanto que os meus amigos celebravam já não terem um amigo virgem e, assim, poderem passear comigo sem pudor no Saldanha, havia um amigo próximo que não era necessário contar virtualmente. O amigo que veio connosco de Portugal com a mesma missão, também ele em Aalborg. O amigo com quem caminhei ao longo das noites até ao Bairro Alto a cantar Thick as a Brick e Always Look on the Bright Side of Life, voltando sempre cedo com as cervejas na mão após compreendermos que o Bar 'Agito' já não passa Aqualung há muito tempo. Um companheiro de longa data com quem passei dos melhores momentos da minha vida e com quem, excepcionalmente, muito desabafei, em parte graças aos efeitos soberbos do álcool - como desinfectar bancadas de cozinha, entre tantos exemplos. Fui à casa dele para lhe contar pessoalmente, afinal a nossa amizade já vem do tempo desde que eu usava gel no cabelo. Chamemos-lhe O Engenheiro. Sentados no sofá com duas Tuborgs, lá lhe contei que viria a ser tio. Levantou-se e exigiu um abraço de irmão, seguido de um brinde de cerveja meio quente, respeitando o ritual de um verdadeiro Homem.

Depois fizemos as contas para ele se aperceber que o sobrinho foi feito na sala dele.

Em Outubro ainda estávamos a viver na casa dele enquanto aguardávamos por uma resposta da AKU, o serviço que nos arranjava casa após 16 anos do nosso pedido. E assim, no aniversário da minha namorada ao qual passámos sozinhos pela primeira vez ao fim de 2 meses, com velas acesas de gelado de baunilha e maçã verde, pétalas de rosa espalhadas, um tapete de urso verdadeiro com a boca aberta numa expressão de 'Media Markt, eu é que não sou parvo', uma lareira só com pinhas de Óbidos, e um queijo da serra barrado sobre tostas do Continente com uma faca de manteiga de cabo de madeira em forma de morango, lá concebemos a natureza a ouvir Elton John - Can You Feel The Love Tonight - live at Fnac Vasco da Gama.

Ou pelo menos é assim que me lembro. Posso estar algo ofuscado. Para completar esse momento lindo em que dois seres humanos se juntaram e amaram-se muito, vamos saber como é que a minha esposa se lembra dessa maravilhosa noite:

'Vimos o Birdman e fizemos amor durante 8 segundos.'

Ah sim, já me recordo. Grande Michael Keaton!

Fonte de inspiração

Mas o Natal estava-se a aproximar e com a sua chegada veio a pergunta: vamos a Portugal? Todos os nossos conhecidos iam celebrar a vandalização do presépio do Chiado com a familia à terra natal. Mas quanto a nós dois, iriamos ficar por Aalborg a trabalhar durante a semana de Natal. Ainda assim, havia o ano novo. Feitas as contas, não era possível irmos os dois. Surgiu uma oportunidade para a minha esposa ir graças à familia e aceitámos, sendo a ideia de fazer uma surpresa pela sua chegada. Não sabiam é que havia a surpresa dentro da surpresa, formando um delicioso Kinder. O resultado foi tão hilariante como imaginam.

A ser sincero, não planeávamos contar às nossas famílias tão cedo. Se perguntassem pela barriga ela diria: "é da deliciosa comida Dinamarquesa". Claro que seria dificil de os convencer, todos sabemos que só o bacon é que é delicioso na Dinamarca. Mas à minha familia era necessário contar pois o período em que estaria presente pelas terras do Alentejo sem Lei coencidia com a primeira ecografia. Tinhamos que contar à minha mãe para que ela agendasse uma ecografia algures, mesmo que fosse numa esquina à frente de todos. E assim, eu tomei a atitude de contar à minha familia.


Começando pela minha avó.

A minha avó ficou contente, mas realçou mais a preocupação pois era quem melhor sabia da nossa situação financeira. Mas tranquilizei-a assegurando que teremos sempre Las Vegas.

Se bem que já vi disto na Rua Augusta
Chegou então a altura de contar à minha mãe. Comecei como se deve começar este tipo de conversa:

"Senta-te"

Depois disse-lhe: "Lembras-te daquele filme em que o Schwarzenegger fica grávido? Imagina isso mas em realista"

Arrependo-me que não seja verdade. Na realidade eu disse simplesmente:" Vais ser avó".

Ao que a minha mãe responde o que qualquer mãe diria:

"Estás a falar a sério? Não és gay afinal?"

A minha mãe começa a chorar e mantem-se uma tensão no ar que passa pelo telemóvel. Não houve um momento de alegria, houve choro e silêncio. Até que acontece o meu momento favorito: "ouço" o meu pai a baixar o volume da televisão. Isto nunca acontece lá em casa, nem mesmo quando eramos assaltados, afinal o Vasco Palmeirim a distribuir 15€ era mais importante. Mas não desta vez, o meu pai ficou preocupado com a reação da minha mãe, a ponto de perguntar:

"O que se passa?"

"Vais ser avô"

O meu pai ajudou ao silêncio. Afinal, eu não era gay e isto de ter namorada durante 3 anos não era um disfarce para me deixarem em paz. Mesmo que fosse, não é que tenha resultado.

Depressa alertei a minha mãe para as regras essenciais a respeitar:

"Se for menina, não quero nada cor de rosa choque nem quero nada da Kitty!" Até agora foi razoavelmente respeitado.

A alegria da minha mãe começou a vir ao de cima e quando dei por mim ao invés de falarmos sobre a ecografia já estavamos a discutir o enchoval.

Depois liguei ao meu irmão. Aproveitei para perguntar se ele queria ser o Padrinho, uma vez que ambos temos Padrinhos e Madrinhas que... bem... temos vaga memória de ter tido uma vez, quando eramos garotos. Por isso, de forma a cimentar que a minha filha havia de ter Padrinhos presentes, escolhi o meu irmão pois mesmo que nos zanguemos temos de estar pelo menos juntos nos funerais dos nossos familiares que não viamos há 30 anos. Para Madrinha, escolhemos a minha Melhor Amiga pois mesmo que nos zanguemos teremos de estar presentes nos funerais hilariantes dos nossos amigos em comum, sendo que alguns já começámos a preparar pois há agora umas coisas na Primark muito giras.

Por agora, à minha familia chegava, a minha namorada precisava de mais tempo para contar.

Oh, mas se valeu a pena a espera!

E por falar em espera, o nosso amigo que foi para África, o Engenheiro Africano, foi o último a saber apesar de ter contado a todos ao mesmo tempo. Quando a internet finalmente chegou ao computador dele, ficou furioso por ter demorado tanto a saber, mas a alegria pela noticia depressa compensou-lhe a espera. Um abraço irmão da linha de Sintra, havemos de nos reencontrar e as nossas filhas irão conhecer-se!



02 December 2016

Episódio 04 | Parabéns, é um Ser Humano! | Ou: Os tempos, eles estão a mudar!




 Entre o segundo dia de trabalho no restaurante chinês, o último fim de semana nas obras, e a procura de algo melhor, a vida foi passando. Olhando para o calendário, só estamos a falar de finais de Novembro e meio de Dezembro. Mas, para o bem e para o mal, a vida de um emigrante demora a passar. Lá fora, cada dia tem 24 horas. Imaginem o que fariamos com 24 horas em Portugal, como estaria a nossa economia, ao invés de só termos 12 horas e 4 serem passadas em transportes. É do que mais sinto saudades. Lá vivia-se, mesmo que alguns dias já fossem sobre rotina. O tempo simplesmente passava a pé e parava nos semáforos, em vez de voar. Sinto que me lembro de todas as vezes que fiz o mesmo caminho. Pode ser explicado por ser um ambiente novo e estar lá há, relativamente, pouco tempo. Mas não me parece que seja só isso. Há uma influência causada pelo ritmo da cidade e população em si. Não sou o único a pensar o mesmo, além de obviamente a minha esposa, um amigo nosso romeno (este detalhe é crucial), que chegou à Dinamarca poucos dias antes de nós, disse-me que quando foi um ano depois à Romenia (vêem?) achou que algo não estava bem. Foi bom ver a familia e amigos, mas depressa sentiu falta da tranquilidade de Aalborg. Existia um comodismo especial que sempre senti mesmo nos meus momentos mais dificeis.

Eu e a minha namorada iamos de manhã para a universidade e voltávamos só à noite. Não é assim tão impressionante, saíamos de noite pois o Sol só aparecia às 8h30 e às 8h32 já estava a ficar escuro. Era como se o Sol só desse um pulo. Ao jantar era quando nos reuniamos mais a nossa amiga ilegal. Ou talvez fossemos nós os ilegais por a termos na nossa renda. A nossa casa, oficialmente, tinha dois quartos mas independentemente de sermos um casal, tem de ser por lei um quarto por pessoa. Não admira que tivessem uma população com falta de jovens, nem depois do casamento se pode dormir na mesma cama.

É uma lei com boas intenções, evitar o fenómeno couchsurfing, mas foi algo pensado por alto. A nossa casa tinha, oficialmente, dois quartos. Mas a sala de estar é considerado como um quarto. Para facilitar, a cozinha é aberta na sala. Ou seja, privacidade foi um conceito que deixei de tomar como garantido durante 9 meses.

Nós decidimos ser honestos e contar ao nosso caretaker, o Hans [Zimmer], que iamos ter um bebé. Pareceu suspeito termos entrado na casa dia 1, termos descoberto no dia 5, e termos contado na semana seguinte. Mas o Hans apreciou a nossa honestidade e termos mostrado ser de confiança (a nossa amiga ainda não estava na casa). Disse que teriamos de arranjar uma casa com um terceiro quarto, mas, por ele, faria como se não tivesse ouvido nada e que poderiamos ficar se quiséssemos, não se comprometendo a qualquer questão levantada pelas autoridades maiores claro. Gostámos do Hans mas sentimo-nos mal por estarmos a mentir ao mesmo tempo que eramos honestos. Em retrospectiva, no entanto, não me arrependo nada.

Conheciamos muito mal a Sandra, além de ser portuguesa e de nos termos visto duas vezes, e creio que ambas partes não estavam muito convencidas em morarmos todos juntos. Não só pela falta de confiança natural, mas pelas experiências que já tinhamos em dividir casa, sendo que a Sandra aqui pode contar mais por já estar há uns anos em Aalborg. Penso que estava há 70 anos, a julgar por como conhecia a cidade. Conhecemo-nos pelo Facebook enquanto estávamos em Portugal a planear fugir da vizinha que nos roubava o estendal e foi uma conselheira fulcral. Por outro lado, tinhamos a mesma experiência de saber que há riscos que têm de ser corridos e a verdade é que mesmo que nós quiséssemos ser um casal sozinho numa casa e a Sandra não quisesse viver com dois estranhos (apliquem o significado que preferirem), era benéfico para todos naquela altura.

O bacalhau com natas no estrangeiro é uma experiência a ser partilhada


Fico feliz por reportar que a Sandra foi uma pessoa impecável e das amizades que trouxemos connosco na viagem de volta. Não deu para trazer as amizades todas porque no porão só podem ir 20 Kg portanto os amigos com menos dinheiro ficaram por lá.

Não contámos imediatamente à Sandra, ainda nos faltava ir à Maya para confirmar, mas não foi muito depois que nos sentámos os três para revelar que viria a ser tia. Foi um acto (a situação deu-se na Dinamarca, onde as algemas do acordo ortográfico não têm jurisdição) que nos proporcionou conforto e temas de conversa. Falei da privacidade, isto é, nós estarmos numa cama na sala e a Sandra ter de entrar no nosso espaço para ir à cozinha, mas a verdade é que não podia ter sido mais tranquilo. Claro que para ela seria mais dificil pois sentia que estava a invadir um espaço mas, dentro do possível, dividiu-se bem a casa. Apesar de sermos nós os titulares da casa, optámos por lhe dar o quarto pois já seria mau para ela o suficiente ter de partilhar casa com estranhos, o minimo que podiamos fazer era dar-lhe privacidade. E com isso acabámos por nunca dormir no "nosso" quarto, nem por uma noite. Na sala, havia uma janela que percorria toda a parede e uma porta para o jardim. Tinhamos um estore que albergava até à porta, pelo que espreitando pela mesma, toda ela em vidro, podia-se espreitar a qualquer momento e observar o meu aspecto em boxers. Se fosse em Portugal, estaríamos a ser constantemente vigiados por idosas e por quem achasse que tinhamos um placar da Remax. Ou os Dinamarqueses são de facto tímidos e respeitadores do espaço de terceiros, ou um deles viu-me nu e espalhou a notícia.
A questão que pairava, no entanto, era onde iriamos pôr o bebé. Numa caixa, claro, mas e depois? Ficariamos os três na sala? Correndo bem, ao fim dos 9 meses já estariamos estáveis, não obstante graças ao apoio de paternidade; e a própria Sandra também queria sair para uma casa própria, a sua estadia por aqueles vales seria sempre provisória. Como fariamos para organizar a casa e receber o morcego? Independentemente do plano, havia ainda a incerteza de podermos ficar na casa, especialmente com as inspecções a serem feitas. O que nos leva ao seguinte ponto.

A confirmação.

Agendámos uma marcação e lá fomos para a clinica. Existe um pópido electrónico que solicita o nosso código para ser feito o check-in. A marcação estava para as 10h e nós chegámos às 10h05. Sentámos, observámos quem nos observava, e depois de termos cheirado o cú uns dos outros ficámos todos na sala à espera de sermos chamados ou de entrar um cão novo. Às 10h07 apareceu a nossa médica na sala a chamar-nos, não valendo a energia gasta em nos sentarmos. Estava apressada pois só tinhamos um máximo de 20 minutos e já tinhamos perdido 5. Nós ficámos incrédulos com o conceito de sermos atendidos durante o horário combinado, como fazem os amigos (até se tornarem melhores amigos, aí estão já a sair de casa). Para nós, portugueses, que já é conhecido a táctica de pegar na senha 67 numa quinta-feira, ir passar o fim-de-semana em Estremoz na casa do tio Cassiano e quando voltamos ao Centro de Saúde na segunda-feira o número já ir no 48; isto é inovador! Adeus Windows Vista!
Gostei da Dra., simpática e entusiasmada com a nossa situação, talvez um pouco mais que nós. A minha mulher foi despejar água Luso e a Dra. foi analisar. Regressou ao gabinete dizendo, sem sombra de dúvida: "Oh yeah, you're pregnant!", como se as hormonas presentes na urina tivessem explodido o aparelho. Não pensei vir a debater a urina da minha mulher publicamente. Considero isto um milestone. Mas notou-se uma breve apreensão que gelou a sala. A Dra. perguntou-nos se queriamos manter o bebé. Sem demorarmos a responder, dissemos que sim, e a sala encheu-se de grinaldas. Parecia orgulhosa e procedeu a explicar-nos o que precisávamos e como viria a decorrer caso tivéssemos o bebé na Dinamarca, onde tivémos de preencher alguma papelada com as nossas preferências na altura do nascimento da nossa senhora. Essencialmente, vitaminas de grávida, sendo que continham uma dose reforçada de vitamina D devido ao mito que era o Sol, que no fundo não era mais do que uma geringonça com um velhinho a segurar um candeeiro de petróleo para uma lupa muito graduada, e todos sabem que os velhos adormecem sempre depois do Primeiro Jornal.

Havia ainda a questão da midwife, que ao contrário de como soa, não era [em principio] uma segunda mulher que construia um triângulo amoroso. Era sim uma enfermeira que viria semanalmente ajudar-nos com explicações, produtos e contar os rins no corpo da criança. No fundo, era ter as consultas de pediatria iniciais em casa, o que incluía a vacinação ao invés de levarmos um recém-nascido a um centro de saúde, que é tudo menos o que o nome implica. Serve de enfermeira, pediatra, assistente social e base para copos. Seria sempre a mesma durante 6 meses, depois as visitas diminuariam de frequência para que também nos desse espaço para fazermos o irmão. Só se tivesse em folga é que viria uma substituta e só em situações de risco é que iriamos a um pediatra. A Midwife também estaria presente no parto e este poderia ser feito em casa, de acordo com as preferências que indicássemos no formulário. Era atribuida automaticamente tal como os nossos médicos de família assim que fazemos o nosso ID. Nunca conheci o meu, mas a julgar pelo nome que está no meu ID teria de dizer na recepção "Hi, I'm here for an appointment for Doctor 'Coisinho', last name 'Dafuk'." "On your left" "Mange Tak!".

Como um último reparo, revelando que acabámos por ter o bebé em Portugal, também os métodos seriam diferentes. Não haveria quaisquer incisões e seria tudo ao ritmo da minha esposa ao invés de nos apressarem para irem a tempo da hora de jantar.

E durante os nossos melhores dias, os tempos foram assim. Chegávamos, reuniamos, jantávamos e planeávamos em familia. Tipicamente, o dia acabava com a Sandra a dar-me algo Dinamarquês a provar e a viciar-me.

Caraças Sandra!


Uma última curiosidade sobre onde nos encontrávamos, de forma a abalar a minha religião de Amigólico (somos um culto pequeno. Acreditamos que a Amizade nasceu por necessidade e o amor nasceu ao terceiro dia, sem ninguém a olhar-nos do céu por terem mais que fazer), fomos morar para um condomino cheio de grávidas. Nunca vi tantas barrigas. Se não o tivessemos já feito, a pressão trataria do resto. Mas o maior sinal dos reis magos estava na nossa caixa de correio. Um babygrow embalado, com uma caixinha com dois brincos. Provavelmente os moradores anteriores foram embora antes da encomenda chegar. Guardámos, apesar de nunca termos usado. Mas não se sintam mal pois quando regressámos chegou uma encomenda surpresa das nossas amigas da França e ds Eslováquia, com roupinhas e doces, que ficou para alguém e nunca veio para trás.

Já provaram gomas da Eslováquia?

Nem imaginam o que perdemos!

Não, a sério, caraças Sandra!

26 November 2016

Intermissão 01 | Chuva de Novembro | Ou: Relembra, Relembra, o 5 de Novembra


Neste texto a minha esposa conta a sua versão de como foi saber que viria a ser mãe.

Spoilers: ela descobriu.






Novembro...

 Há um ano atrás eu tinha muitos sonhos. Foi muito tempo a criar expectativas para o que viria a ser o nosso futuro. Estavamos finalmente na Dinamarca e estavamos finalmente a fazer coisas que apesar de não serem exatamente o que queriamos, eram o que nos dava esperança de um futuro melhor. Conseguimos um tecto nosso, um curso, e um dia a dia que, apesar das dificuldades, estava a ser o que sonhámos – não queriamos muito mais, tinhamos o suficiente para poder respirar tranquilamente.

Não me lembro de a minha vida ser fácil ou descomplicada. Não me lembro de ter um natal ou um aniversário em que me sentisse realmente feliz. Mas há um ano atrás, por muito mal que a experiência estivesse a correr, lutar por o que acreditavamos para mim fazia todo o sentido e apesar de às vezes não o demonstrar, eu estava realmente feliz. O dinheiro é sempre um problema mas a esse problema eu já estava mais que habituada. Estava feliz porque estava com o amor da minha vida a lutar pela nossa felicidade e estabilidade.

Este desvaneio todo veio porque em novembro do ano passado comprei um teste de gravidez num supermercado ao pé da universidade com a única amiga a sério que fiz no curso.

Comprei-o e voltei para as aulas – escusado será dizer que com o teste na mala não consegui concentrar-me mais. Comprei-o por volta das 12h e ainda tinha que aguentar ate às 21h para o poder fazer (hora em que chegaria a casa). 

Mas...

Aquele teste na mala …

... eu nao consegui pensar noutra coisa.

Entre o intervalo da aula de construção (arquitectura) e da aula de dinamarquês, peguei na mala e fui fazê-lo numa casa de banho da universade longe de todos. Eram 15h e apesar de já ter feito um teste de gravidez antes, este deixou-me muito nervosa. Teria de aguardar 5 minutos infernais para descobrir mas nem 30 segundos passaram e deu positivo.

Olhei para a caixa com os simbolos e olhei novamente para o teste. Estava em choque.

Fiquei à espera que os 5 minutos passassem e preparei-me para o negativo. Não podia deixar a minha mente divagar, tinha de esperar pelos 5 minutos. Passaram horas... olhei novamente e continuava positivo. Entrei em choque. Não sabia como reagir. Mandei uma mensagem ao bruno a dizer que o tinha feito e aqui arrependo-me um bocadinho porque arranjei a maneira mais parva de lhe dizer que estava grávida. No chat do Facebook. Mas não consegui esperar mais tempo. Disse-lhe que tinha feito o teste e deu...

“positivo”


A primeira resposta dele foi: Amo-te muito!

Voltei para a aula de dinamarques e aguentei a primeira meia hora... mas tive de pedir licença para sair, a minha cabeça estava a mil e o último sítio onde queria estar era ali. Peguei na bicicleta e comecei o caminho para casa. Entre choque e lágrimas e o frio dinamarquês, a minha energia era tal que penso que foi a vez em que cheguei mais rápido a casa. Não queria acreditar.. e agora? O curso? A dinamarca? A casa? O Bruno? Já tinhamos falado sobre o assunto, mas eu nunca consegui perceber a posição dele (eu sabia que ele queria muito ser pai mas não agora). Passaram-me tantas coisas pela cabeça. Senti-me muito culpada senti-me vazia. Só queria gritar mas nada saía. Senti-me sozinha e assustada, algo que não sentia desde que conheci o Bruno, mas agora tudo estava a voltar ao que sempre passei, à instabilidade, ao descontrolo do rumo da minha vida.

Cheguei a casa, sentei-me na cama e esperei pelo Bruno. Deixei ser ele a tomar a decisão. Eu não conseguia dizer ou decidir nada e fui uma cobarde nesse aspeto mas naquele momento eu senti o meu mundo a desabar e não sabia como reagir.

Ele disse que conseguíamos, que íamos arranjar trabalho, que íamos ao médico confimar tudo e que íamos andar com a gravidez para a frente.

Vê-lo tão convicto.. tão seguro.. fez, ao contrário do que possa parecer, com que eu tivesse mais incertezas de tudo. Mas depois da conversa toda ele disse que ia ao supermercado comprar o nosso jantar e saiu a dizer “então vá, fica aí com o meu filho”..

Filho? Filho?! Aquela palavra caiu como uma bomba e fez-me sair do choque. Filho? Entao quer dizer que vou ser mãe? Eu mãe? Sorri e provavelmente foi o sorriso mais feliz e honesto da minha vida até então.

Ia ser mãe.. e o Bruno ia ser pai! (o melhor pai, disso mesmo antes disto tudo eu tinha certeza) mas eu mãe!? … o maior medo da minha vida (atenção eu queria ser mãe mas..) estava prestes a acontecer, ou melhor já estava a acontecer.. EU! Mãe! Com um filho! Na minha barriga! Não consegui parar de sorrir! Estava tão feliz! Sinto muitas saudades desse momento! Foi realmente mágico ouvir aquelas palavras!

E ganhei assim um novo chão para pisar e um novo sonho para viver.







18 November 2016

Episódio 03 | Grandes Apuros na Pequena Chinabox | Ou: Dá para mais de Quarenta Copos

God Damn it Anders



Esperei que os meus colegas dinamarqueses chegassem todos à sala e contei a novidade: vou ser responsável por um outro ser que dependerá de mim.

Obviamente, nenhum deles estava à espera. 

Como fui eu capaz de perder a virgindade?


Quem? 

O Bruno? 

O Português?


Ofereceram-me os parabéns, mas o Jonathan ficou apreensivo. Como iria eu ser capaz? - questionou-me. Irei voltar para Portugal?


As mesmas questões que eu ainda me fazia, como qualquer um. O plano era mesmo conseguir um contracto e estariamos safos pois teriamos apoios e, após nascer, o dinheiro não seria mais uma preocupação, felizmente. Só era necessário um contracto de um part-time, onde fosse...

Após algum trabalho da minha parte, saí mais cedo da nossa sala de trabalho e fui a correr apanhar o autocarro em Nytorv para a minha próxima aventura.
Trabalhar nas obras assegurou-nos o mês de Novembro, mas estávamos perto da realidade de lutar por um mês de cada vez. A verdade é que, por agora, estávamos à mercê da palavra de outros que precisassem de nós. Surgiu-me então a próxima proposta: lavar pratos.

Lavar pratos é dos trabalhos mais populares para um emigrante. Visto eu ser um homem do século XXI, eu já lavei pratos na vida. Só não tinha experiência à escala de um restaurante, por mais feijoada que se fizesse em família. Eu não substimei a dificuldade, mas admito que sempre que imaginei como seria, só me visualisei a lavar pratos muito rápidamente.

Claro que seria um pouco mais complexo.

Cheguei ao centro comercial Shoppen, que sempre me pareceu uma nomenclatura preguiçosa, e dirigi-me ao restaurante chinês onde se podia comprar caixas com comida chinesa, chamadas China boxes. O restaurante chamava-se Chinabox. Nota-se um padrão imaginativo.

Duas ou três palavras com a primeira pessoa que vi no balcão e entrei cozinha adentro. Retirei o meu casaco e vi-me à rasca para fazer o nó no meu avental. Sabia que devia ter ido para os escuteiros. Ao mesmo tempo, isso privava-me de ter uma rapariga a fazer-me o nó à cintura, tão perfeito que era mal empregado.
Não havia tempo a perder, já havia louça por lavar por isso seria ensinado ao longo da tarde, entre as 16h e as 22h, se não estou em erro. O que há para saber? Meter detergente num escovilhão industrial e esfregar? Sim, em primeiro lugar. Depois mete-se numa máquina quadrada para ser lavado. Fácil. Depois retira-se e seca-se alguns utensilios. Depois arruma-se os pratos e talheres lá fora para os clientes. Depois arruma-se uma colher especifica num sitio que não faz muito sentido. Depois arruma-se uma colher ligeiramente diferente num sitio oposto. Não esquecer as tampas que vão para aquele lado e não para o outro, para o outro são as outras e não são essas mas aquelas. Falta as travessas que vão para o chão ao lado do cozinheiro e as terrinas que são lá fora, logo após deixar as panelas de molho. Tudo isto feito por mim, ao mesmo tempo. O que fizesse, estaria a atrasar outras tarefas. Não havia tempo para nada, nem para aprender. Quando soubesse tudo, surgia um instrumento novo que foi lavado uma só vez o dia inteiro, com uma prateleira única lá em cima. Era caótico, como se espera de um restaurante. Mas, afinal, era só o meu primeiro dia, estava a aprender...



...num centro comercial...



...em pleno Black Friday.





O pior era as caixas de aluminio de sopa de tubarão. Nunca vi comida tão gordurosa, e eu cheguei a comer na cantina da minha escola. Três ou quatro vezes na máquina não chegava para retirar tudo e o tempo que levo para esfregar, pôr na máquina e repetir, como disse, atrasava tudo. Não ajudava o ralo entupir e ter de limpar enquanto mais louça se acomulava. Tudo isto num chão incrívelmente escorregadio. Felizmente, nunca caí nem parti nada.

O que eu mais gostava era de levar uma palete cheia de copos pois tinha de os arrumar lá fora por ordem de tamanhos e de temperaturas; os que estivessem quentes ficavam atrás até arrefecerem. Era quando respirava um pouco, ainda que a correr. O senão era eu começar a pensar no quão detestável era este trabalho.

Havia uma pausa de 10-15 minutos em que podiamos comer tudo o que quiséssemos. Era altura de relaxar e falar com a colega que me dava ordens. Agora era simpática e entre o pouco de conversa que tivemos, pediu-me desculpa se eu achasse que estava a ser agressiva na cozinha comigo. Eu sempre percebi o porquê de ela me ralhar e nunca achei injusto nem retribui nenhuma angústia internamente. Cheguei até a agradecer-lhe por me chamar à atenção.

A familia chinesa trabalhava toda no restaurante e os jovens emigrantes como eu tratavam das limpezas e de servir às mesas. De quem eu mais gostava era do Chef pois não chateava nem queria que o chateassem. Algumas travessas era ele próprio que levava para a sala do buffet, com orgulho notável. Lembro-me de ele quase chocar contra mim (sublinho que seria culpa dele) mas ter uma habilidade incrível para me desviar com o respeito oriental que vemos nos filmes. Era um Senhor. Só é pena não cozinhar nada de jeito.

A contar com onde trabalhei, experimentei 3 restaurantes chineses, todos com o mesmo conceito de chinabox. Todos com o fantástico sabor a cartão. Exceptuando umas bolinhas de frango frito que eram deliciosas, posso afirmar com o meu selo oficial que não há restaurantes chineses de jeito em Aalborg e que o nosso pior restaurante seria um sucesso na cidade. Nem noodles sabem fazer. Fico mais satisfeito com os pacotes da Koka. Para ajudar à minha opinião, os noodles eram feitos num alguidar no chão ao pé dos meus ténis que na semana anterior estiveram na terra de uma quinta. É certo que estavam num alguidar, mas é um respeito interessante pelo cliente.

Nem toda a comida sabia mal


O trabalho não me cansou, apesar de stressante. Mas à semelhança com o cimento, também as minhas mãos sairam queimadas dos pratos quentes que tinha de segurar, em pilha, com a minha vida. Para ajudar, enquanto retirava a louça da máquina tinha água a ferver a pingar em cima dos meus braços. Não fosse eu achar que Deus gosta de mim, ainda me cortei num dedo com um arame do esfregão de aluminio enquanto esfregava forçosamente.

"Não tinhas luvas?"

Nem tinha ordenado, quanto mais.


Saltei essa parte? Então esperem:

O combinado era eu aceitar trabalhar dois dias à experiência e depois chamavam-me quando quisessem, não mais do que dois dias por semana, a receber 50kr por hora (metade do considerado minimo Dinamarquês mas ainda acima do minimo Português), e, claro, sem contracto.

Um amor. A exploração mais semelhante a um estágio do IEFP que encontrei por lá. Todavia, o meu desespero era tanto que eu vi-me sem alternativa se não aceitar ser uma prostituta. E lá nisso, pensassem eles o que quisessem, eu fui um trabalhador eximio de uma soberbidade não antes vista. Trabalhei de borla, por isso, o meu trabalho foi magestral e eles que espetem os pauzinhos no Chau Chau.

No final do primeiro dia, eu não me senti bem, espiritualmente. Cada trabalhador tinha direito a um pequeno balde de 500ml aproveitado de uma marca de cream cheese e podiamos encher com os restos do jantar. O Chef perguntou se eu queria algo da tal travessa que ele tão orgulhosamente preparou, antes de arrumar.
Eu disse que não, só queria encher-me de frango frito e inexplicavelmente de aros de cebola. Sem sabor, obviamente. Notei que ficou ligeiramente recentido, mas que se dane pois daquele cálice os meus padrões não tomarão. Sou um bom garfo, para não dizer que sou um bom pauzinho.

Ao fim do segundo dia, pediram o meu número de telemóvel mas não voltei a ser contactado.

Um mês depois vi uma publicação no Facebook de um grupo que acolhia as nossas denúncias de espaços como este onde fossemos explorados. Eu ponderei muito, muito mesmo em denunciar o restaurante. Mas houve quem conseguisse ficar por uns tempos e ganhasse algum [pouco] dinheiro. Se não fosse este tipo de trabalho, os estudantes internacionais não teriam a minima hipótese. Além disso, eu não conseguia tirar o emprego a pelo menos duas pessoas que conheci, também como eu. Sei que pelo menos uma acabou por ser despedida mais tarde, mas foi melhor do que nada, infelizmente. Quase todas as pessoas que conheci ficaram com um trabalho (as poucas que conseguiram) onde eram pagas metade e trabalhavam o dobro. Mesmo as que tivessem contracto. Entre isso, ou nada, depressa aprendemos.

Mas como indiquei, eu não me sentia bem na primeira noite. À saída, optei por ir a pé até casa, percorrendo uns 10 Km ao frio da meia noite dinamarquesa.


E fiz o caminho a chorar.



Senti-me miserável, enquanto agarrava um pote de comida em vez de trazer dinheiro ou uma garantia que tanto precisávamos. Alguma estabilidade. Esforcei-me para nada, e senti-me derrotado e incerto de ser capaz, de estar à altura do que a minha familia merecia. Tinhamos um enorme alarme contra nós, pelas contas a pagar e para o que o nosso bebé precisava, que ainda não tinhamos. Senti-me magoado com a vida e com alguma vergonha de chegar a casa. Sabia que a minha vergonha era irracional, mas sentia-a, pois a minha namorada mostrava que acreditava em mim e eu não estava a ver motivos para tal.

Entrei em casa cabisbaixo mas disfarçando com o cansaço. Comi o que trouxe, já frio, contei como foi o meu dia e deitei-me com a minha mulher.


Com as minhas mulheres.



11 November 2016

Episódio 02 | É para a frente, Emigrante! | Ou: Com grande prazer, vem grande responsabilidade





 Peguei na minha bicicleta romena e fui a pedalar a toda a velocidade possível até casa. Com a excepção de três ou quatro semáforos, o trânsito era tranquilo e o meu pânico por chegar a horas ao trabalho enquanto assava a correia e garantia um feríado às pastilhas, dava um digno videoclip para os Fire Inc.

Isto até chegar à subida da morte.

Eu tentei subir por 4 vezes durante toda a minha estadia, mas depois de conseguir um 1/6 (uma vez fiz 1/5) desistia sempre e fazia o resto a pé. A humilhação era tanta que eu fingia às pessoas da paragem de autocarro que eu queria ir ao Føtex comprar algo mas na realidade dava a volta para concluir a minha peregrinação. A vergonha maior era eu chegar a meio a puxar a bicicleta e ver idosos a passarem por mim como se estivessem a pedalar na Praça da Figueira em vez de o Elevador da Glória.

Entrei pela casa, comi qualquer coisa rápido (ou pensei nisso) e peguei no meu trolley da Primark a caminho da estação de comboios. Em vez de seguir o meu plano original de fazer um caminho maior mas conhecido, decidi ir pelo Google Maps que me deu o caminho mais directo. Em teoria. Enquanto ouço Mad Max Fury Road, reparo que ainda estou a demasiados Km de chegar a horas e dou por mim num intenerário sem entroncamentos. Obviamente, meti na faixa Chapter Doof e corri que nem um porco quando descobre que a quinta dos donos carismáticos é na realidade A Ilha de Michael Bay. "Corre Michael Clarke Ducan, corre!"

Mas o Michael não correu. Não correu.


Por fim, sem água no cantil, cheguei suado ao parque da estação e pedi desculpa ao meu patrão pelo atraso, enquanto retirava a folhagem que colhi nas rodas da mala pelo caminho, de tal forma que foram arrastadas. Foi uma miragem bonita para os condutores, um desengonçado a correr ao lado da estrada com um trolley. Mais movimento que na IC19, lá nisso. Fiquei a saber que cheguei 25 minutos antes da hora e que teríamos de aguardar pelo meu colega de obra.

Eu já tinha trabalhado para o meu patrão (de forma a mascarar-lhe o nome, chamemos Notklaus). A minha esposa limpava a casa enquanto eu fazia jardinagem, mais precisamente, retirar raízes de árvores a 100kr cada. Durante as primeiras parecia-me um pagamento justo. À medida que apanhava raízes maiores, pensei em falar com o sindicato para ser ao Kg. Nada melhor do que retirar uma raíz com metade do meu tamanho com as mãos, em terra gelada a ponto da semelhança de escavar numa rocha e com flocos de neve a correrem-me pelo rego a relembrar no que me fui meter e no que viria a gastar em consultas de ortopedia. Trabalhei à volta da base de uma muralha que fora iniciada pelo meu futuro colega, ao qual o Notklaus pediu-me para ser assistente quando ele voltasse.

Quando chegou ao carro, cumprimentei o Tiago, também ele português. Era parecido comigo, de óculos e gorro mas chegava-me aos ombros, sendo que eu já estava habituado a chegar aos ombros dos Dinamarqueses (tenho 1,90m, entroncado). O carro do Notklaus era pequeno mas que bastasse. O único senão era o facto de estarmos a entrar numa lixeira. Era só merda. Desde pacotes vazios cobertos por terra lameada a restos de cenouras, feno e... quase de certeza que merda literal. Agora questionam-se:

"Lixo muita gente tem no carro e é natural os tapetes e mesmo estofos estarem lameados"

Costumam ter lama no tejadilho? Fora do carro, dentro do carro, no porta-bagagens do carro, no porta-luvas do carro, nos cintos do carro, na Seguradora do Carro, nas fotos no Stand Virtual do carro,... Sai mais limpo andar a cavalo e aposto que o combustivel dos dois veiculos era o mesmo, mas no carro a ordem de combustão era a contraria.

O Tiago e eu (com Jennifer Aniston e Owen Wilson) fomos nos apresentando e a falar do que faziamos por ali. O Notklaus pediu que falássemos em português, enquanto ele falava Dinamarquês com a esposa, a Naoseiquantas. Talvez fosse um fetiche sexual deles. Achámos estranho mas assim eu podia comentar à vontade que lhe viria a oferecer no Natal uma esfregona Vileda. 

O Tiago já andava nisto há um tempo e descobri que tinhamos mais em comum. Era pai de uma menina que estava em Portugal com a mãe enquanto trabalhava por Aalborg. A menina viria a fazer 1 ano no Natal e, felizmente, ele já tinha o bilhete para passar o primeiro aniversário com a filha. Não contei por imediato que eu ia ser pai, afinal eu próprio estava a digerir. Eu tinha a sorte de ter comigo a minha esposa, mas a verdade é que ainda residiam em mim inúmeras incertezas.

Chegámos à Quinta da Familia Galaró. Houve uma breve converseta de como seria o plano para o fim-de-semana e, claro, como seria o ordenado. Para o Tiago, o mestre da obra, 120kr por hora. Para mim, 100kr, o que era abaixo da média Dinamarquesa mas justo o suficiente.

A quinta era composta por duas moradias encostadas. Ficámos na outra casa, limpa pela minha esposa, e pousámos a respectiva tralha. Eu fiquei no quarto e o Tiago preferiu ficar na sala. Tinha o triplo do espaço mas dormiu num sofá tão mau que era considerávelmente mais saudável para as costas dormir nas escadas da Loja do Cidadão nos Restauradores, incluindo as proteções para impedirem que alguem descance a noite em luxo. Mas não fosse o Tiago ter conforto a mais, dormiu ao lado de um rato morto que estava encostado a uma caixa vazia de Jelly Beans com sabores bizarros. Mas assim estava mais perto do modem para iniciar o seu ritual de falar com a familia por Skype e poder ver a filha à distância, outro clássico de um emigrante ou de quem vai passar o fim-de-semana a Santarém. Eu quis fazer o mesmo mas descobri que levei sem querer os dois carregadores dos portáteis, levando uma descasca valente da minha namorada até ela ficar sem bateria. Mas o amor trabalha de formas misteriosas e eu sabia que, mesmo à distância, com a Lua cheia, ela ainda me estava a odiar.

Eram 7h da manhã quando começámos a preparar o pequeno almoço. Era inútil acordar mais cedo pois não se via nada na rua antes das 8h. O Tiago colheu alguns mantimentos que tinha guardado no armário da casa enquanto que eu saquei da minha arma secreta: a tostadeira que trouxe comigo!

Tinhamos que fazer um muro com, assim por alto, uns 30 metros de comprimento? E 3,50m de altura? Se parecer bastante então é essa medida. Começámos a montar os blocos de betão armado e a encaixar as vigas alternadamente. Depois, enquanto o Tiago limpava o espaço e montava a betuneira, eu fui de carrinho de mão buscar com uma pá a areia e gravilha até o peso ser equivalente à minha consciência. Uns 7 carrinhos depois, fui buscar a água das chuvas recolhida num barril, utilizando 2 baldes partidos. Com o tempo tornei-me bom a fazer massa, segundo o Tiago. E realmente deixava-a com a consistência ideal e boa de Sal. Aos poucos fomos enchendo as colunas do betão, um processo que demorou mais do que previamos, não ajudado pelo facto de o muro já estar maior do que eu e ter de perder tempo a montar o andaime para que eu pudesse chegar com o balde de massa acima. Admito que o Tiago foi crucial para o fim quando os meus braços não podiam erguer mais. Trabalhámos até não haver mais luz, que era a partir das 17h. Às 18h já nem a escuridão viamos. Por nós, trabalhávamos mais mas era impossível ver o que fosse.



Como imaginam, o trabalho era de enorme esforço e quando me deitava sentia as costas a dizerem: "estavas melhor a trabalhar na multimédia". Mas tenho boa memória do trabalho pois tive uma determinação incrível, abdicando de almoçar só para adiantar o que pudesse. A determinação vinha por base de eu sentir que tinha de fazer isto pelo meu filho. É certo que faria o trabalho de qualquer maneira, mas teria tanta força para erguer tantos blocos e carregar tanta areia e cimento? O cansaço no corpo era enorme, mas a minha mente estava melhor do que nunca. A força que o meu bebé me deu foi crucial para aguentar o que viria nos próximos tempos.

Eventualmente desabafei ao Tiago. Falámos sobre a perspectiva dele e sobre a minha, o que eu receava mais e o que planeava (em tão pouco tempo). Pela familia do Tiago, que me recorde (não me sinto confiante da memória), não foi uma notícia fácil de se receber mas que com o tempo acostumaram-se.

Menos mal que comigo viria a ser tranquilo.

Representação visual da tranquilidade a chegar-nos


Eu gostei bastante do Tiago, serviu de uma espécie de espelho ao que viria a ser o meu futuro, pelo menos até então. É também um exemplo tipico de o emigrante longe da familia que vê o filho crescer num ecrã. Uma realidade bastante triste, mas com a melhor das intenções. Nunca mais soube nada do Tiago. Espero que tudo lhe corra bem pois foi um bom Português lá fora, que muito me ensinou em pouco tempo e que, do que conheci, será motivo de orgulho para a filha. Um Abraço!

Onde eu ia? Ah sim, o trabalho. Apesar de eu estar a receber abaixo da média do setor, era o suficiente para pagar as contas. Estava a receber, em média, 100€ por dia, tendo feito 400€ por quatro dias de longo trabalho. Felizmente sobrou para eu comprar creme Nivea, pois trabalhar com cimento portland queimou-me as mãos. As luvas que tinha disponiveis estavam esburacadas, e o cimento portland tem o bónus hilariante de absorver toda a humidade das mãos a ponto de os meus dedos parecerem mumificados. Além do cansaço, as mãos doiam-me por a pele estar a fazer um esforço tremendo para se esticar. É suposto ter água limpa e corrente à mão para ir lavando, mas só tinhamos o barril da água do cimento. Ao inicio ajudou, assim como no dia em que trabalhámos à chuva, mas quando o barril ficou vaziou a nossa única solução era ir buscar água, 2 em 2 baldes, ao rio gelado do outro lado da quinta. 


Infelizmente perdemos a oportunidade de cantar "Água gelada que nem cornos, da ribeira..."


O detalhe crucial de trabalhar numa obra é que a mesma, portanto, acaba. E não voltei a receber tão bem.

Cheguei a casa com a roupa estragada do cimento, com as mãos arruinadas e com o corpo preparado para descansar na nossa cama de solteiro para crianças do Ikea. Mesmo assim, ainda hoje preferia voltar ao mesmo trabalho, não pelo dinheiro, mas pela força e orgulho que senti, por uma vez.

Isso e porque fui um emigrante a trabalhar nas obras. Que clássico!






04 November 2016

Episódio 01 | Prologo | Ou: Por Favor, não percam o próximo episódio, é só mais um bocadinho


A nossa história começa, como tantas outras, com um casal apaixonado.

Ela- Eu amo-te!
Ele- E eu a ti morzinho!
Ela- Anda ter filhos de forma planeada num futuro próximo o suficiente após organizarmos as nossas vidas.
Ele- Claro que sim dentinho da minha placa.
Ela- Oh! Vem cá!


E assim não foi.






Olá, o meu nome é Bruno mas podem-me chamar Bruno Duarte. Sou jovem, irresponsável, e fui pai aos 24 anos. Venho por este meio narrar os pontos de vista de jovens seres a descobrirem o que é germinar e cuidar de um outro ser, irónicamente, mais responsável mas igualmente herege pois Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados e visualizou com uma exactidão impecável que 2016 anos depois uma bebé seria pecadora a ponto de ter de ser lavada num bacio para limpar impurezas. Em troca de ouro e prata.


Ainda vou fresco nesta aventura, quase 4 meses feitos assim que completo este texto para ser algo exacto. Para já, argumento que a experiência de um jovem pai não é nada fácil. É como ser um pai maduro, mas com mais olhares de idosas.


Este blog nasce da ideia de os meus amigos do Facebook aperceberem-se que os meus estados sobre a minha filha são 3x mais populares do que os meus restantes trabalhos, tendo o potencial para tornar-se numa obra independente como a formação do Relvas.

John Cleese refere que a melhor fase para se escrever uma biografia é a infância pois já podemos analisar de forma objectiva enquanto que situações recentes tendem a ser visualisadas através da influência do nosso ego actual. É algo que me apercebi sozinho com o tempo e de facto, olhando atrás, dá muito mais sentido à forma como decorreu a minha infância. Naturalmente arruina então o potencial absoluto de falar sobre esta história. No entanto, acredito também no poder futuro de reler daqui a uns anos e surpreender-me com a minha mentalidade neste ponto de referência, para o bem e para o mal.


A relação com a minha mulher sempre foi muito bem aceite por toda a gente e em particular pelas nossas familias que não têm qualquer problema connosco. Foi por isso que decidimos fugir deles para a Dinamarca e arranjar uma desculpa que lá fora é que é.

E nunca perguntei por direções



 E lá fora é que foi. Para nós, passaram-se uns 6 anos onde vivemos num Hostel da morte, onde entrámos na casa de dois drogados que queriam mesmo, mesmo, mesmo que ficássemos com o quarto, onde entrámos numa outra casa de um Russo que tinha um Indiano com o pé engessado que nos vendia o quarto mas a momentos da transferência o Russo aceitou outras pessoas que não aceitaram o quarto o que fez com que o Russo nos quisesse de volta mas eu disse-lhe que eu venho do bairro da Bica e não estou para isto, até que, eventualmente, começámos a suspeitar que algo estava... diferente...

A minha mulher começa a vomitar. 

"Querida, não é para tanto! Eles têm bons cirurgiãos que me podem remendar a cara!", disse eu, determinado em resolver o meu aspecto de uma vez na Cuf estrangeira.

E assim foi, durante uns tempos a minha esposa aceitou-me melhor e os enjoos passaram.
Todavia, tempo depois, algo estava de novo diferente. A minha amada não estava a desmaiar com dores há muito tempo. "Fofinho, temos de ir ao médico. Estou bem há demasiado tempo"


Numa quinta-feira em Novembro, pouco tempo após arranjarmos a nossa casa definitiva em Borgmester Jørgensensvej, depois de Nytorv, ao chegar ao Nordkraft, subindo tudo até Sohngårdsholmsvej; eu estava a ensaiar sozinho em casa a minha apresentação para o dia seguinte na Universidade de Aalborg, em Badehusvej (se bem que na altura não sabia se seria em Strandvejen; sei é que seria perto de Porthusgade). Desta vez eu iria representar todo o meu grupo com o nosso projecto, sendo que seria uma pré-avaliação antes do Dia D. Na casa, vivia eu, a minha esposa e uma outra rapariga com quem dividiamos casa ilegalmente. Por uma rara vez, eu estava sozinho em casa, a falar inglês de um lado para o outro no meio da sala. Até que fui interrompido por uma chamada da minha mulher:

"olha... Mor..." *abalada*
"O que se passa?"
"...pagaste a Telia este mês?"
"Sim."
"Pronto"
[Telia é um serviço de telecomunicações como a nossa Meo, Vodafone ou NOS, mas onde nos enrabam de forma mais elegante como se fossem britânicos enfadados]
"Ah é verdade, estou grávida e tal."

Parte de nós sabia. Duvidámos que aconteceria, mas suspeitávamos. E deu-se um pequeno silêncio. Não irei disfarçar que foi um momento mágico em que pulei de alegria. Ela estava nervosa e eu não sabia bem o que dizer, a não ser: "vem para casa, precisamos de falar"

Tal como um filme, a sala ficou cinzenta com o infame tempo Dinamarquês e as horas demoraram-me a passar até ela chegar e eu sem saber o que dizer ou achar. Não senti nada quando soube a novidade. Talvez uma percentagem esperada de medo, mas foi tudo muito racional para mim. No fundo, era simples: abortamos, ou não abortamos.
Pensei em todos os detalhes, sem rodeios e objectivo, vendo os pontos positivos e os negativos de cada decisão. Não desesperei com o "e agora o que fazemos? A nossa vida acabou!", pelo contrário, fiquei calmo mas com uma decisão de grande responsabilidade. Até que finalmente chegou, sem saber o que sentir mas sem qualquer animação. Sentou-se na cama e falámos.

Aqui tive talvez a minha única atitude machista, que me perdoe a Rita Ferro Rodrigues. Foi uma decisão dos dois, mas senti que tinha a palavra final. Isto porque eu conhecia-a. Eu sabia que, embora ela entende-se qualquer decisão racionalmente, estaria mais inclinada para um lado. Eu sempre sonhei ser pai, mas sempre desejei as melhores condições para o poder ser e, não querendo arrastar-nos para a miséria, estaria preparado para decidir abortar. Tivemos uma situação semelhante no mesmo ano, ainda em Portugal, e teria decidido abortar pois não teriamos condições. Calhou ser falso alarme, como a nossa esperança num novo governo.

Mas agora estávamos na Dinamarca. O dificil das nossas vidas, isto é, sair das garras dos estágios onde ganhamos a aptidão de viver sem ordenado e fazer-nos à vida, já estava. Ainda não tinhamos trabalho fixo e não estávamos nada bem de dinheiro pois tinhamos acabado de arrender a casa e adquirir alguma mobilia. Mas... ponderei. Basta nos esforçarmos e é extremamente plausível. Se ficarmos juntos e trabalharmos em equipa, será possível. O ser plausível intrigou-me. Houve quem conseguiu em piores condições, como os meus pais e avós, todos eles bem mais novos do que eu. Se comparar a minha idade com a dos meus pais quando tiveram o meu irmão, eu já era um ancião em risco de secar o meu aparelho reprodutor. E não me recordando do que disse, sei que foi nesse registo, em "então será assim..."

O importante para mim, naquele momento, era o bem estar da minha namorada pois, de forma parvinha, além de sentir os mesmos receios que eu, também se sentia culpada, como se houvesse culpa a sentir. Fui o mais adulto até à data (o record viria a ser durante o parto, mas lá chegaremos) e assegurei-lhe que iria tudo correr bem e iriamos conseguir. A conversa fiada que se quer, mas a qual, por uma vez, me senti confiante. Senti dentro dela felicidade, só não se via por fora. Mas senti que ganhou um alivio, como se tivesse uma ideia reprimida que já não se recordara. Nestes momentos ficamos tão preocupados com o "e agora?!" que não pensamos "mas, e se?!"

Vesti o casaco e fui ao Rema1000 comprar o nosso jantar. Antes de sair, disse-lhe: "então vá, fica aí com o meu filho que eu já venho"

E agora sim, a felicidade dela reparou-se com um sorriso honesto e bem visivel.
Passámos a noite toda a falar sobre como será e o que teremos de fazer, sem que nos parecesse tão real como há umas horas. Decidimos não contar ainda a ninguém, afinal, foi só um teste e não uma confirmação médica. Já estávamos mais que convencidos. Em vez de nos 'tranquilizarmos' com "calma, a caixa tem um segundo teste" "calma, isso é uma merda de plástico, até irmos à médica pode não ser nada, lembra-te do Schrodinger!". Foi ao contrário. Tinhamos receio que a médica dissesse que não seriamos pais pois acabámos de sentir conforto com a ideia. Só depois iriamos pensar em enfrentar os amigos e familiares, a parte mais divertida.


Felizmente eu estaria preparado. Ela não, que não podia beber.



Aqui está a enorme diferença entre Dinamarca e Portugal: a população. Somos muito mais calorosos e dispostos abertamente a ajudar, mas temos uma má lingua do piorio. Só estamos bem a falar mal da vida alheia como se a restante população fossem os aneis do Saturno que é o nosso anûs. Na Dinamarca, não houve uma pessoa que não nos desse força e todo o apoio. Quando ligámos ao hospital a solicitar um Dr. que nos visse o potencial de a minha mulher estar grávida, a administrativa gritou de alegria e deu-nos imensos parabéns, como se não ouvisse a mesma merda todos os dias. Na Dinamarca talvez não ouvisse, é verdade, pois é uma população velha a precisar urgentemente de jovens. Tal como Portugal. E, por isso, faz tudo ao alcance para atrair jovens e oferecer as melhores condições para que possam ter uma vida estável e criar uma familia sem dificuldades. Tal como Portugal.

Não tivémos nada abaixo de "vocês conseguem". Aqui, dizem "como vão estudar na universidade e ser pais?" enquanto que lá os professores dizem "há imensas alunas grávidas a estudarem e a fazerem exames, não se preocupem." Tivémos uma decisão só nossa e não quisémos ouvir mais ninguém, mas é inegável a sorte que tivemos em estar rodeados de pessoas que nunca vimos antes mas que nos apoiaram e nos deram força que em outras circunstâncias estranhamente semelhantes podiam nos suscitar dúvidas desnecessárias.

No dia seguinte, apresentei em último lugar e fui o melhor daquela tarde. O projecto não era o melhor, mas a forma como foi vendido, sim. Gratificante não pelo meu esforço de preparação, mas por ter apresentado um teclado touchscreen para doentes com parkinson a uma sala de Dinamarqueses enquanto eu não sabia o que dizia e não queria saber do projecto por um dia. Estava em verdadeiro piloto automático, a falar no palco para uma sala cheia de olhares que se indignavam de inveja da minha t-shirt do Batman enquanto eu pensava "vou ser pai". Assim que terminei, saí da universidade e fui fazer uma viagem de uma hora e meia até Hadsund, para iniciar o meu primeiro trabalho nas obras, um clássico do emigrante. Um fim-de-semana do meu trabalho mais árduo onde tive tempo para digerir isto de ser pai.

E fica, por aqui, a apresentação da nossa aventura. Ainda há muito para vos contar, como a reacção dos meus pais, o decidir o nome, o descobrir o sexo, o descobrir como se faz sexo e, claro, o parto. Ao mesmo tempo que vos conto, ainda tenho muito para aprender à medida que escrevo. Agora se me permitem, a minha filha está a dormir ao colo da mãe enquanto fazemos a viagem de expresso, e eu vou olhar para elas pois fisicamente esgotei as minhas glandulas salivares de tanto amar este ser fabricado na Dinamarca, exportado para Portugal.

E tudo isto sem lidarmos com uma única assistente social da Santa Casa, credo.




Winter was coming