Neste texto a minha esposa conta a sua versão de como foi saber que viria a ser mãe.
Spoilers: ela descobriu.
Novembro...
Há um ano atrás eu tinha muitos sonhos. Foi muito tempo a criar expectativas para o que viria a ser o nosso futuro. Estavamos
finalmente na Dinamarca e estavamos finalmente a fazer coisas que
apesar de não serem exatamente o que queriamos, eram o que nos dava esperança de um futuro melhor. Conseguimos um tecto nosso, um curso, e um dia a dia que, apesar das dificuldades, estava a ser o que sonhámos – não queriamos muito mais, tinhamos o suficiente para
poder respirar tranquilamente.
Não me lembro de a minha vida ser fácil
ou descomplicada. Não me lembro de ter um natal ou um aniversário em
que me sentisse realmente feliz. Mas há um ano atrás, por muito mal
que a experiência estivesse a correr, lutar por o que acreditavamos para
mim fazia todo o sentido e apesar de às vezes não o demonstrar, eu
estava realmente feliz. O dinheiro é sempre um problema mas a esse
problema eu já estava mais que habituada. Estava feliz porque estava
com o amor da minha vida a lutar pela nossa felicidade e
estabilidade.
Este desvaneio todo veio porque em
novembro do ano passado comprei um teste de gravidez num supermercado
ao pé da universidade com a única amiga a sério que fiz no curso.
Comprei-o e voltei para as aulas – escusado será dizer que com o teste na mala não consegui concentrar-me mais. Comprei-o por volta das 12h e ainda tinha que aguentar ate às 21h para o poder fazer (hora em que chegaria a casa).
Mas...
Aquele teste na mala …
... eu nao
consegui pensar noutra coisa.
Entre o intervalo da aula de
construção (arquitectura) e da aula de dinamarquês, peguei na mala e fui fazê-lo
numa casa de banho da universade longe de todos. Eram 15h e apesar de já ter feito um teste de gravidez antes, este deixou-me
muito nervosa. Teria de aguardar 5 minutos infernais para descobrir mas nem 30 segundos passaram e deu positivo.
Olhei para a caixa com os simbolos e
olhei novamente para o teste. Estava em choque.
Fiquei à espera que
os 5 minutos passassem e preparei-me para o negativo. Não podia deixar a minha mente divagar, tinha de esperar pelos 5 minutos. Passaram horas... olhei novamente
e continuava positivo. Entrei em choque. Não sabia como reagir. Mandei uma mensagem ao bruno a dizer
que o tinha feito e aqui arrependo-me um bocadinho
porque arranjei a maneira mais parva de lhe dizer que estava grávida. No chat do Facebook. Mas não consegui esperar mais tempo. Disse-lhe que tinha feito o teste e deu...
“positivo”
A primeira resposta dele foi: Amo-te muito!
Voltei para a aula de dinamarques e aguentei a primeira meia hora... mas tive de pedir licença para sair, a minha cabeça estava a mil e o último sítio onde queria estar era ali. Peguei na bicicleta e comecei o caminho para casa. Entre choque e lágrimas e o frio dinamarquês, a minha energia era tal que penso que foi a vez em que cheguei mais rápido a casa. Não queria acreditar.. e agora? O curso? A dinamarca? A casa? O Bruno? Já tinhamos falado sobre o assunto, mas eu nunca consegui perceber a posição dele (eu sabia que ele queria muito ser pai mas não agora). Passaram-me tantas coisas pela cabeça. Senti-me muito culpada senti-me vazia. Só queria gritar mas nada saía. Senti-me sozinha e assustada, algo que não sentia desde que conheci o Bruno, mas agora tudo estava a voltar ao que sempre passei, à instabilidade, ao descontrolo do rumo da minha vida.
Cheguei a casa, sentei-me na cama e
esperei pelo Bruno. Deixei ser ele a tomar a decisão. Eu não
conseguia dizer ou decidir nada e fui uma cobarde nesse aspeto mas naquele momento eu senti
o meu mundo a desabar e não sabia como reagir.
Ele disse que conseguíamos, que íamos
arranjar trabalho, que íamos ao médico confimar tudo e que íamos
andar com a gravidez para a frente.
Vê-lo tão convicto.. tão seguro.. fez, ao
contrário do que possa parecer, com que eu tivesse mais incertezas
de tudo. Mas depois da conversa toda ele disse
que ia ao supermercado comprar o nosso jantar e saiu a dizer “então vá, fica aí com o meu filho”..
Filho? Filho?! Aquela palavra caiu como
uma bomba e fez-me sair do choque. Filho? Entao quer dizer que vou
ser mãe? Eu mãe? Sorri e provavelmente foi o sorriso mais feliz e
honesto da minha vida até então.
Ia ser mãe.. e o Bruno ia ser pai! (o melhor
pai, disso mesmo antes disto tudo eu tinha certeza) mas eu mãe!? …
o maior medo da minha vida (atenção eu queria ser mãe mas..)
estava prestes a acontecer, ou melhor já estava a acontecer.. EU! Mãe!
Com um filho! Na minha barriga! Não consegui parar de sorrir! Estava
tão feliz! Sinto muitas saudades desse momento! Foi realmente
mágico ouvir aquelas palavras!
E ganhei assim um novo chão para pisar e um novo sonho para viver.














